-
‘Melhores professores de inglês não são britânicos nem americanos’, diz linguista
Posted on dezembro 7th, 2011 No commentsPrimeiramente gostaria de agradecer a Prof. Agatha por trazer a
notícia.Não concordo com tudo que trás a reportagem/entrevista. Mas vejo
nela mais pontos positivos a se ponderar do que negativos.O que me dizem?
Aguardo a opinião de vocês aqui no blog, facebook ou Email (hidehigh@hidehigh.com.br). Como preferirem!
See you all at school!
Fernanda Calgaro Do G1, em São Paulo
Para David Graddol, melhores professores de inglês não são necessariamente
os nativos (Foto: Fernanda Calgaro/G1)Ao contrário do senso comum, o melhor professor de idiomas não é o nativo,
mas aquele que fala também a mesma língua do aluno. A vantagem desse
profissional está na capacidade de interpretar significados no idioma do próprio
estudante. Com a hegemonia ameaçada no caso do inglês, professores americanos e
britânicos devem reavaliar a maneira como ensinam o idioma.As conclusões fazem parte de duas pesquisas desenvolvidas pelo lingüista
britânico David Graddol, 56 anos, a pedido do British Council, órgão do governo
do Reino Unido voltado para questões educacionais.No Brasil para participar de seminários sobre língua estrangeira, ele
avalia que o ensino do inglês nas escolas brasileiras está muitas décadas
atrasado em relação a outras nações e sugere que o país aproveite os Jogos
Olímpicos e a Copa do Mundo para tentar correr atrás do prejuízo.Durante 25 anos, Graddol foi professor da renomada UK Open University e
atualmente é diretor da The English Company e editor da Equinox Publishing. Ele
prepara um terceiro estudo, este focado mais na Índia, que será publicado até o
final do ano. Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao
G1.G1 – Qual o perfil ideal de um professor de idiomas?
David
Graddol - O melhor professor é aquele que fala a língua materna de quem
está aprendendo o idioma. Também é preciso ser altamente capacitado e ter um
ótimo domínio do idioma, claro.Muitas pessoas ainda pensam que os melhores professores são os nativos. Minha
opinião é que elas estão erradas”G1 – O sr. considera então que os professores nativos estão perdendo
terreno para outros que falam também a língua do aluno?
Graddol -
Sim e não. O que acontece é que, usando uma metáfora, o bolo geral está
crescendo, porque atualmente há cerca de 2 bilhões de pessoas aprendendo inglês
ao redor do mundo. O fato de o Reino Unidos e os EUA estarem perdendo essa fatia
de mercado é enganoso, porque a participação deles também está crescendo. No
entanto, o bolo está crescendo mais e mais rápido. Em muitos países, há
reminiscências românticas acerca do ensino de inglês. Muitas pessoas ainda
pensam que os melhores professores são os nativos. Elas pagam inclusive a mais
por isso. No entanto, minha opinião é que estão erradas. O que deve ser mudada é
a maneira como o inglês é ensinado.G1 – Como assim?
Graddol - O inglês passou a ser
encarado como uma necessidade. Muitos países se relacionam e fazem negócios
entre si por meio do inglês, sem que nenhum deles tenha o inglês como primeiro
idioma. Em muitos lugares, o inglês deixou de ser ensinado como língua
estrangeira, como na Cinha e Índia, onde o inglês passou a ser considerado uma
habilidade básica. Nesses países, os estudantes começam a aprender o idioma já
nos primeiros anos escolares. A ideia é que mais tarde, quando atingirem o
ensino médio, passem a ter aulas de outras disciplinas por meio do inglês.
Historicamente, falar uma língua estrangeira era sinal de status. Agora, o que
acontece é que as pessoas estão genuinamente tentando universalizar o
idioma.G1 – O uso do inglês como “lingua franca” [quando um idioma é
utilizado por pessoas que não tenham a mesma língua nativa] pode modificar o seu
ensino?
Graddol - Há certas coisas que se tornaram comuns e que
parecem uma nova variedade de inglês. E nós acabamos nos habituando a esse novo
uso. São coisas simples, como a maneira em que as palavras são soletradas e
todas as vogais, faladas. Muitas das vogais, nós, nativos da língua,
substituiríamos por um único som. Essas peculiaridades, que não necessariamente
devem ser consideradas erros, precisam ser levadas em conta no ensino desse
inglês global.G1- Como avalia o crescimento da demanda pelo ensino de inglês?
Graddol -O que está acontecendo é que, desde a década de 90, houve
um aumento gradativo de pessoas aprendendo inglês e atualmente cerca de 2
bilhões de pessoas estudam o idioma. No entanto, nos próximos anos, a
expectativa é que haja um declínio nessa demanda.David Graddol defende que o Brasil aproveite as Olimpíadas e a Copa para
ensinar inglês à população (Foto: Fernanda Calgaro/G1)G1 – Como se explica essa previsão de declínio?
Graddol
- As pessoas que hoje estão no ensino fundamental e aprendendo o idioma
chegarão ao ensino médio ou superior já sabendo inglês. Em muitos países da
Europa, quando chegam nesse ponto, esses alunos começam a ter aulas de
diferentes disciplinas em inglês. Então, deixam de ser estudantes de inglês e
passam a ser usuários da língua. Eles não têm mais um professor de inglês, mas
um professor de geografia, por exemplo, que dá aulas em inglês. Esse declínio
não significa que menos pessoas estejam usando inglês, mas que o inglês,
ensinado no ensino fundamental, começa a fazer parte da alfabetização
básica.G1 – Que idiomas podem representar uma ameaça ao inglês? Mandarim
é um deles?
Graddol - O mandarim não é uma ameaça. Certamente que
tem crescido em popularidade, mas faz parte de um pensamento antigo, quando se
achava que uma língua cresceria à custa de outra. No entanto, ambas podem
crescer juntas, assim como outros idiomas.A internet tem uma diversidade de línguas, mas o inglês acaba então sendo
mais comum nos fóruns on-line de discussão e em relatórios
técnicos”G1 – Qual o impacto da internet no uso do idioma?
Graddel -A internet é outro bolo que tem crescido cada vez mais
rápido. E nela são usadas mais línguas do que antes. É um lugar que acolhe
línguas menores. Meu nome é galês e, se fizer uma pesquisa no Google sobre mim
na internet, aparecerão diversas páginas escritas em galês. Isso é surpreendente
porque, de repente, percebemos que há um universo paralelo na internet. E o
mesmo acontece com o catalão. E muitas vezes não tomamos conhecimento disso
porque uma página num idioma não tem link para páginas em outro idioma. A
internet tem uma diversidade de línguas, mas o inglês acaba então sendo mais
comum nos fóruns on-line de discussão e em relatórios técnicos.G1 – O ensino do inglês é bastante rentável para os países onde a
língua é falada.
Graddol - Os ganhos com o aprendizado do inglês
não vêm só dos cursos de inglês mas também dos estudantes internacionais que vão
para as universidades nesses países para terem aulas em inglês. Então, esse é
outro tipo de exportação que pode ser creditada ao inglês.
O Reino Unido passou a disputar alunos de inglês não só com competidores
tradicionais, como os EUA, mas também com outros países da Europa
G1 – A crise global afetou em algum aspecto o ensino do
inglês?
Graddel - A crise global foi positiva para o setor porque
provocou a desvalorização da libra esterlina e deixou o Reino Unido mais
atrativo. O que aconteceu é que o Reino Unido deixou de disputar esses alunos
com competidores tradicionais, como os EUA, a Austrália e, em certa medida, a
Nova Zelândia. Agora, estamos perdendo para universidades na Europa, que têm
cursos de diversas áreas que são dados em inglês. Um aluno coreano, por exemplo,
pode estudar direito na Alemanha e ter aulas em inglês, além de estar bem no
centro da União Europeia e quem sabe até aprender um pouco de alemão. Para ele,
o ganho acaba sendo maior.G1 – O ensino do inglês deve começar nos primeiros anos escolares? As
crianças obtêm resultados mais consistentes?
Graddol - Diversos
aspectos devem ser considerados. É possível começar a estudar inglês mais tarde.
No entanto, se esse início for com 11 anos de idade, por exemplo, o número de
horas dedicadas ao idioma precisa ser mais intenso, com, no mínimo, cinco ou
seis horas. E esse ensino tem que ser bastante eficiente, que contemple o
desenvolvimento de diversas habilidades da língua.G1- Existe então uma idade ideal para começar a aprender inglês?
Graddol -Não. Na verdade, há vantagens e desvantagens em quase
todas as idades. Conheço adultos que, com meia hora de estudo, têm rendimento
maior do que uma criança justamente por causa da sua experiência adquirida ao
estudar idiomas. Há vários outros aspectos a serem levados em conta. Um é que é
muito mais fácil criar, numa sala de aula, um ambiente que motive as crianças a
aprenderem. Elas aprendem quase sem perceber. No entanto, o principal argumento
talvez seja que, como nem todas as escolas conseguiriam destinar um dia da
semana de uma turma de alunos de 11 anos para ensinar inglês, o melhor é começar
cedo. Assim, é possível obter um progresso gradativo, que permita ao estudante
chegar no ensino médio falando inglês.
No Brasil, o inglês é ainda visto como uma língua estrangeira
G1 – Como avalia a situação do Brasil em relação ao ensino e uso do
inglês?
Graddol - No Brasil, o inglês é ainda visto como uma língua
estrangeira. Em muitos outros países, as coisas avançaram muito rapidamente e
não é mais visto como uma língua estrangeira. O Brasil parece estar muitas
décadas atrás do resto do mundo em termos de inglês. O que está sendo feito aqui
não é suficiente para produzir pessoas realmente fluentes em inglês. As escolas
estão falhando ao ensinar inglês e isso é uma ótima noticia para o setor
privado. As famílias que tiverem condição de bancar os estudos mandarão seus
filhos para escolas de idiomas, o que gera a divisão social.G1 – As Olimpíadas e a Copa do Mundo podem ser oportunidades para o
Brasil correr atrás desse prejuízo?
Graddol - Certamente. Foi o que
a China tentou fazer, usou as Olimpíadas como uma justificativa para implantar
programas de melhoria de conhecimento de inglês para a população de Pequim.
Foram estabelecidas metas. E é isso que o Brasil deveria fazer, porque, se não
se estabelece metas, não se sabe onde quer chegar nem se você chegou lá.G1 – E deu certo na China?
Graddol - Entre as metas
estabelecidas na China, havia algumas em relação a policiais e taxistas, por
exemplo. Mas devo dizer que não deram muito certo. Como alternativa, puseram uma
maquininha dentro dos táxis que emitia a tarifa da corrida para facilitar a vida
do turista. No caso do Brasil, o país deve ao menos tentar garantir que os
funcionários de hotéis falem bem o inglês. E as metas precisam ser estabelecidas
já, porque as mudanças levam tempo.Leave a reply